
Na mais recente cúpula da Comunidade da África Oriental (EAC), realizada virtualmente sob organização do Quênia, líderes regionais solicitaram um cessar-fogo imediato e incondicional no leste da República Democrática do Congo (RDC). Durante o encontro, também instaram o governo congolês a negociar diretamente com todas as partes envolvidas, incluindo o grupo rebelde M23, para solucionar o conflito crescente na região.
A 24ª edição da cúpula destacou preocupações com a crescente instabilidade na cidade de Goma, onde o agravamento da crise humanitária e a perda de vidas causam inquietação. Em um comunicado oficial, os chefes de Estado reforçaram a necessidade de ações imediatas para cessar os combates e garantir acesso humanitário às populações afetadas.
O presidente congolês, Felix Tshisekedi, optou por não participar da reunião, estando simultaneamente em Angola para conversas bilaterais com o presidente João Lourenço. Enquanto isso, a cúpula virtual contou com a presença do presidente de Ruanda, Paul Kagame.
Durante o encontro, também foi emitida uma declaração condenando ataques recentes contra missões diplomáticas em Kinshasa, enfatizando a necessidade de proteção a embaixadas, diplomatas e instalações internacionais.
Os líderes da EAC também anunciaram planos para uma cúpula conjunta com a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) nos próximos dias, buscando uma resposta coordenada à crise.
Mercenários europeus serão deportados via Ruanda
Em um desdobramento paralelo, quase 300 mercenários europeus, principalmente romenos, serão repatriados de forma segura através de Ruanda. Segundo o ministro das Relações Exteriores ruandês, Olivier Nduhungirehe, os governos de origem desses combatentes solicitaram a Ruanda que facilitasse sua evacuação pela capital Kigali.
Enquanto isso, o presidente Kagame criticou publicamente autoridades sul-africanas, incluindo o presidente Cyril Ramaphosa, acusando-os de distorcer informações sobre suas recentes discussões sobre o conflito na RDC. Kagame também rejeitou a presença da Missão da SADC no Congo (SAMIDRC), argumentando que a força militar atua não como uma missão de paz, mas como um contingente beligerante apoiando o governo congolês contra parte da população local.
Preocupação com escalada do conflito
O ministro das Relações Exteriores da África do Sul, Ronald Lamola, alertou para o risco de uma guerra regional generalizada caso o conflito no leste da RDC não seja resolvido. Durante uma coletiva de imprensa em Pretória, Lamola defendeu um engajamento conjunto entre a União Africana (UA), a SADC e a EAC para mediar um cessar-fogo e buscar uma solução duradoura.
Os rebeldes do M23, acusados de receber apoio de Ruanda, alegam ter conquistado a cidade de Goma. Entretanto, relatos de moradores sugerem que a cidade segue sob disputa entre rebeldes e forças governamentais. Kinshasa denuncia a presença de tropas ruandesas na região e garante que a cidade será protegida.
O grupo M23 justifica suas ações com base em queixas de discriminação contra comunidades tutsis na RDC. O governo congolês, por sua vez, acusa os rebeldes de desestabilizar a região com apoio externo.
A crise já levou ao deslocamento de milhares de pessoas, muitas das quais buscaram refúgio em Ruanda, incluindo funcionários de organizações internacionais como a ONU e o Banco Mundial.