
Países com alta adesão à vacina contra o HPV, que protege contra o vírus causador de alguns tipos de câncer, como o cervical, registraram quedas significativas nos índices da doença. Na Áustria, autoridades de saúde intensificam os esforços para ampliar a vacinação, mas incertezas políticas podem comprometer o programa.
Durante um evento de prevenção do câncer em Viena, no último fim de semana, a urgência de administrar vacinas gratuitas era palpável. Uma iniciativa que oferece a vacina para pessoas com menos de 30 anos — normalmente disponível apenas para menores de 21 — pode terminar ainda este ano.
Elmar Joura, especialista em oncologia ginecológica da Universidade de Medicina de Viena, expressou pessimismo quanto à continuidade do programa. Ele destaca que o Partido da Liberdade (FPÖ), que pode liderar o próximo governo austríaco, possui uma postura contrária à vacinação. “Eles têm um ponto de vista anti-vacina”, afirmou Joura.
Movimento anti-vacina e política de direita
O FPÖ, liderado por Herbert Kickl, é um dos partidos de direita em ascensão na Europa. Durante a pandemia, Kickl chamou as vacinas contra a Covid-19 de “experimento de engenharia genética” e promoveu o uso da ivermectina, contrariando evidências científicas.
Especialistas alertam que essa retórica não só alimenta a desconfiança em relação às vacinas contra a Covid-19, mas também pode prejudicar campanhas de imunização de outras doenças, como HPV e sarampo. “A desconfiança em uma vacina pode ter efeitos em cadeia sobre outras”, destaca Jakob-Moritz Eberl, da Universidade de Viena.
Impacto na saúde pública e cenário político
Embora o foco principal dos partidos populistas europeus seja a imigração, a economia e o nacionalismo, a saúde pública tornou-se um campo fértil para explorar o descontentamento popular. A pandemia trouxe à tona frustrações que agora são usadas como ferramenta política.
A situação política na Áustria permanece incerta. Após o FPÖ obter 29% dos votos na última eleição, as negociações para formar um governo de coalizão com o Partido Popular Austríaco falharam. Agora, partidos centristas buscam alternativas, deixando o futuro da política de vacinação em suspenso.
Preocupação com o futuro das imunizações
O receio é que, mesmo que o FPÖ não consiga chegar ao poder, a contínua difusão de mensagens anti-vacina possa minar anos de progresso em saúde pública. “A vacina contra o HPV é uma ferramenta crucial para evitar o câncer cervical”, reforça Joura.
Na prática, especialistas temem que a polarização política prejudique o acesso a vacinas e aumente os riscos de surtos de doenças evitáveis. O exemplo da Áustria serve como alerta para outros países, especialmente em um momento em que a confiança na ciência e nas autoridades de saúde pública é mais necessária do que nunca.