
Dois médicos da Harvard Medical School, Gordon Schiff e Celeste Royce, estão processando o governo Trump após a remoção de dois artigos científicos que mencionavam termos como “LGBTQ” e “transgênero” de um site federal administrado pela Agência de Pesquisa e Qualidade em Saúde (AHRQ), vinculada ao Departamento de Saúde e Serviços Humanos (HHS). Os artigos foram retirados da Rede de Segurança de Pacientes (PSNET), uma plataforma usada por médicos e pesquisadores para compartilhar informações sobre erros médicos, diagnósticos incorretos e resultados de pacientes.
O processo, arquivado com o apoio da União Americana das Liberdades Civis de Massachusetts (ACLU) e da Clínica de Acesso à Liberdade e Informação da Mídia da Yale Law School, alega que a remoção dos artigos viola a Primeira Emenda da Constituição dos EUA, que garante a liberdade de expressão. Rachel Davidson, advogada da ACLU Massachusetts, afirmou: “O governo não tem absolutamente nenhum direito de ditar quais fatos são permitidos ou o que pesquisadores, acadêmicos e médicos podem expressar.”
Um dos artigos removidos discutia o diagnóstico de endometriose em pessoas transgênero, destacando a importância de reconhecer que a condição pode afetar essa população. O outro artigo abordava a avaliação do risco de suicídio, identificando a comunidade LGBTQ+ como um grupo de alto risco. A remoção dos textos foi justificada por Patrick Romano, co-editor-chefe da PSNET, que citou uma ordem executiva relacionada à “ideologia de gênero” e um memorando do Escritório de Gestão de Pessoal (OPM) que instruía agências federais a remover conteúdo que promovesse a “ideologia de gênero”.
O processo nomeia o OPM, a AHRQ e o HHS como réus. O Escritório de Assuntos Públicos do HHS se recusou a comentar o caso, alegando que não discute litígios em andamento.
**Debate sobre liberdade de expressão e discurso governamental**
Steven Collis, professor de direito especializado na Primeira Emenda da Universidade do Texas, explicou que o caso pode se resumir à classificação da PSNET como um “fórum público limitado” ou “discurso do governo”. Se considerado um fórum público, o governo não poderia discriminar com base no ponto de vista expresso. Já se for considerado discurso governamental, o governo teria mais liberdade para controlar o conteúdo. Collis também mencionou que o governo pode argumentar que a remoção dos artigos se enquadra em uma “restrição de tempo, local e maneira”, permitindo limitar a expressão em certos contextos.
Os demandantes também alegam que a remoção violou a Lei de Procedimentos Administrativos, que regula como as agências federais devem agir ao alterar regulamentos. Eles argumentam que a decisão foi “arbitrária e caprichosa”, sem consideração adequada às consequências de remover os artigos do banco de dados.
**Impacto amplo na comunidade médica e além**
Rachel Davidson destacou que a censura a conteúdos relacionados à comunidade LGBTQ+ e transgênero pode ter efeitos negativos significativos na segurança e no acesso a cuidados de saúde para essas populações. Ela também alertou que as implicações vão além da comunidade LGBTQ+, afetando toda a comunidade médica e a capacidade de fornecer cuidados de saúde de qualidade.
O caso pode se tornar um precedente importante para pesquisadores que buscam desafiar as políticas do governo Trump em relação à ciência e à liberdade de expressão. Davidson espera que o processo incentive outros pesquisadores cujos trabalhos foram removidos da PSNET a se manifestarem.
A história foi atualizada para incluir uma resposta do HHS, que se recusou a comentar o litígio em andamento.