
Milhares de pessoas continuam a abandonar suas casas na região de Kivu do Norte, no leste da República Democrática do Congo (RDC), em meio à intensificação dos confrontos entre o grupo rebelde M23 e as forças governamentais. No domingo, os combates se aproximaram da cidade de Goma, gerando um cenário de caos e medo.
Moradores relataram que tiros esporádicos foram ouvidos no território de Nyiragongo, especialmente em Munigi, área próxima a Goma. “Houve movimentos em massa nas estradas em direção a locais mais seguros, enquanto muitos seguiram para a fronteira com Ruanda”, afirmou Pierre, um residente local. Ele também destacou que lojas e armazéns permaneceram fechados, diante do avanço dos rebeldes do M23, que ameaçam cercar a cidade.
Autoridades ruandesas no distrito fronteiriço de Rubavu informaram que, embora ainda não tenham registrado novos refugiados, o fluxo de viajantes vindos de Goma aumentou consideravelmente no domingo.
As movimentações forçadas de civis impactaram especialmente localidades como Bweremana, Minova e Kalungu. Segundo o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), muitas pessoas buscaram abrigo em escolas e outras áreas consideradas mais seguras.
O coordenador humanitário da ONU no Congo, Bruno Lemarquis, expressou preocupação com a escalada dos combates e seus efeitos na população. “Desde as novas ofensivas do M23 em 23 de janeiro, centenas de milhares de pessoas foram novamente forçadas a fugir. A capacidade de acolher e ajudar os deslocados já está saturada”, disse em comunicado.
No Hospital Geral Ndosho, em Goma, mais de 256 feridos, incluindo 90 civis com lesões graves por tiros e artilharia, estão sendo tratados. A capacidade do hospital, de 146 leitos, foi amplamente excedida, mesmo com o apoio de organizações humanitárias.
No domingo, o M23 anunciou o fechamento do espaço aéreo sobre Goma, acusando forças aliadas ao governo congolês de utilizarem o aeroporto local para transportar bombas. O grupo rebelde, que segundo acusações seria apoiado por Ruanda, intensificou sua ofensiva no leste da RDC, capturando territórios estratégicos. O presidente ruandês, Paul Kagame, negou repetidamente envolvimento com os rebeldes.
De acordo com a agência da ONU para refugiados (ACNUR), o número de deslocados internos devido aos conflitos em 2025 já ultrapassou 400 mil pessoas, um reflexo da grave crise humanitária na região.