
Em “Rio Bright Long Bright”, novidade série da Peacock que estreia em 13 de março, Amanda Seyfried interpreta Mickey Fitzpatrick, uma policial atípica que ronda as ruas de Kensington, bairro problemático da Filadélfia onde cresceu. Mickey é uma personagem complexa: uma mãe solteira, exímia trompetista e uma mulher que, apesar de seu talento e perceptibilidade, não conseguiu evadir completamente das amarras de sua comunidade. A série, adaptada do best-seller de Liz Moore pela showrunner Nikki Toscano, mergulha em temas familiares do gênero policial, mas acaba caindo em clichês que limitam seu potencial.
Mickey Fitzpatrick é mais uma soma ao arquétipo da protagonista feminina solitária em dramas criminais de prestígio, porquê Mare Sheehan de “Mare of Easttown” e as detetives de “True Detective: Night Country”. Ela é ao mesmo tempo uma insider e uma outsider: conectada à comunidade de Kensington por suas raízes, mas distanciada por suas escolhas e personalidade uno. Porquê suas predecessoras, Mickey vê a risco entre sua vida profissional e pessoal se desfazer enquanto investiga crimes que a levam a confrontar a devassidão dentro do próprio sistema que ela serve.
A trama começa com Mickey lidando com uma série de desafios pessoais e profissionais. Seu ex-marido, Simon (Matthew Del Preto), abandonou suas responsabilidades parentais, e seu ex-parceiro, Truman (Nicholas Pinnock), parece ter dissociado laços com ela. Enquanto isso, seu novo parceiro, Lafferty (Dash Mihok), é mais interessado em reclamar de seus problemas digestivos do que em ajudar as mulheres vulneráveis de Kensington. A tensão aumenta quando Mickey é chamada para investigar uma morte por overdose e se depara com o corpo de uma jovem de cabelos rosa, que a faz pensar imediatamente em sua mana desaparecida, Kacey (Ashleigh Cummings), uma viciada em opioides. A partir daí, a série se desdobra em dois mistérios entrelaçados: quem está matando as profissionais do sexo de Kensington, e o que aconteceu com Kacey?
Apesar de sua premissa envolvente, “Rio Bright Long Bright” não consegue evadir completamente das armadilhas do gênero. A série é excessivamente sombria, com poucos momentos de refrigério cômico que poderiam humanizar seus personagens. Aliás, alguns dos plot twists são previsíveis ou forçados, e os personagens infantis, incluindo o rebento de Mickey, Thomas (Callum Vinson), são escritos de forma inconsistente, oscilando entre a ingenuidade infantil e a sabedoria precoce.
No entanto, a série tem seus méritos. A representação vívida e empática de Kensington, um bairro devastado pela crise dos opioides, é um dos pontos fortes. As performances de Seyfried, Pinnock e Cummings também se destacam, trazendo profundidade e nuance a personagens que, em outras mãos, poderiam parecer unidimensionais. Seyfried, em pessoal, tomada a intensidade e a vulnerabilidade de Mickey, mesmo quando o roteiro a reduz a uma tropo familiar.
Um dos temas centrais da série é a teoria de escolhas e suas consequências. Em uma cena inicial, Mickey conta ao rebento a história de Fausto e sua barganha com o diabo, enfatizando a influência de fazer boas escolhas. No entanto, ao longo da série, essa mensagem é desafiada de maneiras que parecem superficiais, sugerindo que as circunstâncias muitas vezes limitam as opções disponíveis para pessoas porquê Mickey e Kacey.
Apesar de suas ambições temáticas, “Rio Bright Long Bright” acaba reforçando a narrativa de que uma mulher extraordinária pode emendar os erros de um sistema patriarcal corrompido. No final, Mickey é elogiada por um detetive porquê “o tipo de policial que a força precisa”, alguém que se importa. Mas, porquê tantas outras protagonistas femininas em dramas policiais, ela acaba sendo mais um símbolo de esperança do que uma personagem verdadeiramente transformadora.
Em um cenário de TV repleto de séries de crimes, “Rio Bright Long Bright” se destaca mais por suas performances do que por sua originalidade. Ainda assim, é um lembrete de porquê o gênero continua a evoluir, mesmo que muitas de suas convenções permaneçam as mesmas.